sábado, 28 de novembro de 2009

É o fim!

Ir ao cinema é uma experiência única, sempre. Assistir ao recém chegado filme 2012, dirigido por Roland Emmerich e protagonizado por John Cusack é sem dúvida alguma uma experiência que nos ensina a escolher melhor um filme para ver no final de semana. O roteiro foi escrito por Roland Emerich e Harald Kloser e o filme fala sobre o possível fim do mundo em 2012. O mais incrível é que a gente sai do cinema pensando se o fim de um mundo inteligente não é aqui, agora!
O filme é uma espécie de mixórdia de recortes e ícones, puro clichê. Uma mistura de Arca de Noé com Titanic e Todos os Homens do Presidente. Como também alguma cena que nos remete ao bom e velho 007 mergulhando sem oxigênio, (mas com gravatinha) para salvar o mundo de um trapinho que atrapalha a engrenagem de tão suntuosa engenharia naval.
Não poderia deixar de mencionar um arremesso imediato às lembranças das Grandes Navegações com Santa Maria, Pita e Nina da caravana de Pedro Álvares Cabral (fiquei esperando uma voz ao fundo, gritando: “terra à vista!”) – aliás, a única referência ao Brasil é o Rio de Janeiro em plena olimpíada, com seu ícone maior: O Cristo!
E a escolha da trilha sonora? A música do trailer do filme é a mesma utilizada no trailer do filme “O Iluminado”. Duvido que Jack Torrence (interpretado por Jack Nicholson) se identificasse o roteiro em questão.
É risível ver que ao salvar os líderes mundiais, não existe nenhuma referência ao presidente do Brasil, ou cuba, ou a quaisquer outros líderes de qualquer país latino-americano. Tratamento oposto é dado ao super-homem norte-americano (of course!).
O Presidente dos Estados Unidos da América que, no caso do filme 2012, é mais que o conceito de Caetano Veloso sobre Marina Silva, pois não se limita a uma mistura de Barack Obama com Lula, ganha também uma aura de Dalai Lama e Gandhi ao esperar heroicamente pelo tsunami anunciado, na varanda da Casa Branca.
Uma organização chamada IHC (Institute for Human Continuity - Instituto da Continuidade Humana) (quase HIAC) percebe a situação e começa a salvar os maiores patrimônios da humanidade entre 2010 e 2011, entre eles a Mona Lisa, no qual vão ao Museu do Louvre e trocam a pintura original por uma réplica. E fiquei pensando: “por que não salvaram Andy Warhol ou Vik Muniz ou mesmo, quem sabe, Duchamps?”... Será que mesmo no fim do mundo só o que é consagrado como arte deve ser salva? Ou quem sabe, o roteirista é um fervoroso católico e temente ao Papa e a tudo que é cânone?
É, definitivamente deveria ser o HIAC no lugar do IHC para tentar salvar da mesmice e do cânone, o que o imperialismo cinematográfico americano entende por poder, arte e politicamente correto. Tudo bem que em se tratando de fazer jus a um partwork de referências a outras produções cinematográficas, 2012 deve ter-se inspirado em algum texto de Silviano Santiago quando este falou em hibridização.
Quem sabe um dia a indústria cinematográfica não adira à novas formas de alertar as pessoas para o fim do pensamento massificado e comece a salvar o expectador de experiências tão decadentes e sem conteúdo quanto a que vi na telona no último final de semana. Quem sabe um dia a arrogância norte-americana não consiga dobrar o seu próprio cabo da boa esperança e possibilite aos amantes do cinema assistir a filmes mais inteligentes? Definitivamente é um cinema catástrofe!
2012
Título original: 2012
Duração: 158 minutos (2 horas e 38 minutos)
Gênero: Ficção Científica
Censura: 10 anos
Direção: Roland Emmerich
Elenco: Amanda Peet, Chiwetel Ejiofor, Woody Harrelson, Thandie Newton, Thomas McCarthy
Ano: 2009
País de origem: EUA / CANADÁ

Caetaneando o preconceito


O sempre polêmico e tão usualmente inteligente Caetano Veloso, nos brinda com uma entrevista ao Jornal Estado de São Paulo, no último dia 05 de Novembro e faz mais que brindar: Desta vez nos surpreende com uma postura pouco usual de sua parte, de trazer em seu discurso, um novo passageiro: o preconceito!
Na entrevista concedida à jornalista Sonia Racy, Caetano é singular e plural, prá variar, e coloca na mesma panela ingredientes frasais conflitantes, bem à moda futurista de Tomazzo Marinetti. Ao referir-se a uma matéria recente do New York Times que diz ser o Brasil o País mais importante do mundo para o qual os olhos do mundo se voltam, provoca uma espécie de haraquiri verborrágico ao definir o Presidente deste País (que é o dele) como “analfabeto”, “cafona” e “grosseiro”.
Ao longo das linhas, Caetano vai-se enrolando em fios de palavras e frases mal postas e faz na entrevista o que ultimamente tem feito em seus shows: caído! O Padre Antônio Vieira ficaria de cabelo em pé vendo a cova em que Caetano Veloso coloca as palavras (mesmo que em Português corretíssimo, mas de forma politicamente tão incorreta). Além do New York Times e The Economist, Caetano deveria ler Marcos Bagno e o recente livro do Professor e psicanalista Eduardo Leal Cunha, um baiano (como Caetano) de 44 anos, Indivíduo singular e plural – A identidade em questão, e mergulhar mais em outras searas da inteligência política, para não cair em tentações oligofrênicas de (de)formador de opinião, e acolha a complexidade da realidade de que ele se diz tão fã. Desta forma, provavelmente, exercendo o poder argumentativo (de quem somos todos ouvintes e leitores atentos), seja mais pragmático que Lula e continue exercendo a elegância que confere o nosso Presidente aos seus mais diletos eleitores, o povo, quando fala a sua língua, não por populismo, mas por competência lingüística de quem veio do povo e a este se comunica.
“Mas repito: eu sou daquelas moças... não estudei direito”, diz Caetano à Sônia Racy. Então, deveria estudar melhor a forma de apontar o dedo para o nariz alheio estando preparado para ver o próprio nariz sujo de preconceito refletido no espelho das palavras escolhidas. “As pessoas na verdade vão para atitudes muito irracionais”...Freud explica! “Então não é que as coisas mudaram, e estamos vendo um Caetano preconceituoso e fragmentadoramente iluminista, é que elas vieram à tona. Suponho que o povo percebe. Mas olha, vir à tona é uma melhoria.
Vivo como se estivesse em 1957. Caetano é um “zii” da lingüística de Marcos Bagno (na pior e mais pejorativa maneira de dizer). Parafraseando nosso tão elegante e ultimamente tão equilibrado Caetano, “sempre achei que o Brasil é um País com (nor)destinos de grandeza e uma originalidade fatal”.

Sem Papas na Língua


No último dia 21 de Novembro de 2009 fomos “iluminados” pelas sábias palavras de um homem contemporâneo, ecologista de plantão, sem bigodinho, mas com o poder nas mãos e nos discursos... Este homem se diz representante de Deus na terra e conclama os fariseus para uma cruzada em prol de um resgate da beleza na arte e de uma ecologia humana, tão importante quanto salvar as florestas. Praticamente um Chico Mendes!É um espírito muito elevado, tão superior a ponto de perdoar quem nega a veracidade do holocausto... Muito coerente vindo de alguém que leva a sério o ditado que diz: “Quem sai aos seus, não degenera!”. É um homem, sem dúvida coerente com seus princípios cristãos e seu papel de porta voz do divino. Segundo ele: é a favor da descriminalização do homossexualismo, mas se disse contra um projeto de declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) que defende os direitos dos homossexuais.” Afinal, diz o divino ser: “salvar a humanidade do comportamento gay é tão importante quanto proteger as florestas ".Este bom velhinho (que de Papai Noel não tem nada, afinal, não usa a expressão bíblica "Crescei e multiplicai-vos") declara que devemos seguir o que nos diz a Bíblia e, no entanto, não permite que seus “discípulos” casem ou constituam família (só se for muito em segredo, que o diga Lucrécia Bórgia). Mas, não é um mandamento do “chefe”? Este ser, tão iluminado quanto os homens na caverna de Platão, é um arsenal de sabedoria e é realmente um privilégio poder ouvir o que ele nos tem a dizer, afinal, é melhor ouvir isso do que ser surdo.Mas, irmãos e irmãs, filhos de Deus, nosso querido referenciado não pára por aí (e nem poderia, afinal tem um mandato vitalício e vai falar besteira até morrer). Certamente, depois de dormir com os anjos (ou escolheu apenas um dentre todos?), acordou inspirado e fez uma declaração digna de um prato de papa: pede que os artistas se afastem da beleza hipócrita da transgressão. Só esqueceu de fazer uma prece pedindo aos céus memória para lembrar-se do conceito de hipocrisia: “A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui” (Por que será que isso me lembra tanto os episódios dos padres pedófilos?).O celestial representante da verdade e dos conceitos, este artista INDEXado, reuniu 260 guardiões da beleza e falou de maneira tão ilusória, falaz, superficial e deslumbrante até o atordoamento, sobre o conceito de beleza que, segundo ele, a arte deve transmitir: “comunicar a beleza, de fazer comunicar na beleza e através da beleza”. Já vi este filme!Que beleza de declaração! Num mundo onde os seres mais inteligentes matam-se uns aos outros, onde sacerdotes “comem” criancinhas, onde A VOZ proíbe o uso da camisinha em detrimento do sofrimento que permeia a vida de quem adquire AIDS e o não uso favorece o nascimento de crianças sem uma infra-estrutura que permita uma condição de vida digna, este sacerdote da verdade bane do seu reino medieval uma menina que foi estuprada e engravidou, um médico que a livrou da parte física deste pesadelo e a mãe desta menina. Realmente, é um “holofote da sabedoria” o homem que fala em beleza sem se dar conta que além das capelas douradas e dos muros que delimitam suas regalias, vivem pessoas com fome, doentes, sem teto, sem justiça, sem voz.Mas, o mundo sabe que este homem enviado não está alheio às dores do seu rebanho, este homem que tem um quê de alma ariana (ele deve ser do signo de Áries) e que lembra tanto um seu conterrâneo alemão, está atento.
Na mesma semana, toca nosso solo um enviado de Aláh, o senhor Mahmoud Ahmadinejad, aquele que diz também que o holocausto é uma mentira repetida, aquele iraniano... Ariano? É como diz James Redfield, autor de A Profecia Celestina, coincidências não existem... Só sincronicidades!!!

”Sobre a lei contra a hipocrisia”


O projeto de Lei (PLC 122/2006) que modifica qualitativamente a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, quando do seu artigo 1º, definindo os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero é um encontro entre Heráclito, Platão, Darwin e os Humanistas do Renascimento, posto que adapta-se ao mundo onde precisa ser exercido o seu poder de Lei. Um mundo onde as pessoas são mais do que homens e mulheres, mais que eleitores procriadores e mais que coadjuvantes no cenário nacional. Elas são GENTE! Com sentimentos e comportamentos que precisam ser respeitados.
No seu Art. 8º-A. que diz Impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público, em virtude das características previstas no artigo 1º; punindo com pena de reclusão de dois a cinco anos, este Projeto de Lei nos faz refletir se estávamos preocupados em agredir quem celebra seus sentimentos em detrimento dos que nos agridem com ações vis e amorais nas ruas e mesmo no Governo. Estamos tão acostumados à violência que nos sentimos violentados por pessoas que exprimem amor? Paixão? Porque manifestações de afetividade nos sacodem tanto?
Somos o fruto do iluminismo e somos vários, portanto. No universo das possibilidades, tomemos como base o respeito às diversidades e o que consideramos como comportamento alternativo que seja finalmente acoplado ao nosso super ego como sujeito de direito legítimo e inquestionável. Quando Antônio Cícero, em seu artigo “Sobre a lei contra a homofobia” nos fala que civilizado é quem é capaz de fazer uso da razão para criticar todos os preconceitos, inclusive aqueles em que foi criado, paremos para pensar que civilizado é quem não se atém a deliberar contra a liberdade de ser do outro... Ser civilizado é ser e deixar ser livre, trocando a palavra “preconceito” pela palavra “respeito”.
Ao substituirmos o instinto pela experimentação nos tornamos diferentes dos demais animais, posto que a razão seja um pressuposto componente dos homens, não é mesmo? Portanto, natural que sexo possa efetivamente ser separado de reprodução, ou então teremos que punir as mulheres que chegaram à menopausa, por continuarem praticando sexo.
Sofista é aquele que pratica deslealdade consigo e com o próximo. Ser quem se é, é direito de todos e todos são iguais perante a Lei. Esta mesma lei que não pune quem nos agride com palavras, atos, gestos e omissões, por sua culpa, sua tão grande culpa! Quando fechamos os olhos e escolhemos nos abster de preservar e defender os direitos de quem é diferente de nós, nos tornamos desmerecedores de sermos respeitados, só com o mero argumento de talvez, sermos tão preguiçosos que não tenhamos coragem de nadar contra a maré, embora na maioria das vezes, esta seja nossa vontade! Nosso Alter Ego!